quinta-feira, 24 de abril de 2014

E.

Com tanto o que dizer e fazer as palavras eram inúteis nesse momento. Nada no mundo poderia expressar a beleza daquela cena. O peito dele subia e descia em ritmo acelerado, não por cansaço, mas pela sensação que invadia aquele corpo. Aqueles olhos tão escuros que brilhavam até mesmo na escuridão daquela sala. A lareira já há muito não queimava como antes, as cinzas ainda tinham um brilho alaranjado que insistia em permanecer mesmo que já não lhe fosse necessário. Porém, elas tentariam por anos, mas nunca teriam um calor tão intenso como daqueles olhos. Olhos cansados, olhos de maravilhoso castanho escuro, olhos fixados naquele que o admirava tão de perto, a única pessoa que não poderia amaldiçoar os céus por qualquer infortúnio - pois à ele eu pertencia.
Ele tinha aquela expressão de quem estava lendo tudo o que se passava na minha cabeça. E mesmo que ele não pudesse imaginar todo o turbilhão de pensamentos que corriam pela minha mente confusa, ele sabia. Era assim que funcionávamos; ele lia a minha mente e eu apenas cedia todos os meus segredos, como um fiel escravo dos seus olhos.
Toquei sua pele com a devoção que lhe era devida, como se tocasse a peça mais delicada e necessitada de cuidados que já tivesse existido. A forma possessiva com a qual havia tomado seu corpo anteriormente já não era mais necessária, pois ele sabia o quanto eu o desejava, já que ele sempre sabia absolutamente tudo. Seu corpo subiu sobre o meu, sua cabeça pesou sobre meu peito e eu estava em casa. Envolto em braços e pernas que me pertenciam, não como algo que eu possuísse, mas como algo que era uma parte minha também. Seu corpo era o complemento para o meu, da mesma forma que eu o completava.
Ele não tirava aqueles olhos dos meus e sua pele perfeitamente branca reluzia na luz fraca, era pura poesia. Um sorriso se desenhava em sua face, os lábios avermelhados se esticavam como se tivessem sido feitos apenas para isso. Ele beijou meu queixo, abaixou sua cabeça e os olhos se fecharam. Não havia a necessidade de usar palavras, não havia o vazio do silêncio. Éramos eu e ele, lendo os pensamentos um do outro, sendo apenas um.
Minhas mãos seguiram por seu corpo, como um velho conhecido, e traçaram um caminho até seus cabelos. Os quais prendi entre meus dedos, enrolando suas mechas entre eles, então ele abriu um sorriso ainda maior e eu sorri juntamente. Tudo o que ele tinha que fazer era sorrir para me ter por completo, ele nem ao menos precisava me fascinar com aqueles olhos que eu tanto amava, bastava sorrir.
Já teve a sensação de amar tanto alguém que nenhuma palavra no mundo definiria o que sente? Eu tenho nesse momento. Porque ele me tem... Nesse momento.